Conheci o Carnaval de Salvador em 1987, já era grandioso e bastante diferente do que eu estava acostumado até então. Podíamos assistir o desfile dos blocos comandados por trios elétricos, cada bloco com suas cores (na época a vestimenta se chamava mortalha e vinha acompanhado de um mamãe-sacode), ou teríamos que nos tornar sócios de um deles, eram muitos. Ainda hoje para os baianos, quem brinca do lado de fora dos blocos, brinca na “pipoca”, nome dado pelo pula-pula.
Claro que na época não observava como hoje observo as diferenças, era jovem demais e estava ali para aproveitar cada música, cada trio, pois haviam vários cantores ou bandas conhecidos nacionalmente, para mim era como um grande show. O visual me encantava, a alegria e a abertura daquele povo que recebia (e recebe) tão bem gente de todos os lugares.
Depois fiquei sabendo que foi através de uma apresentação do Bloco Vassourinhas de Pernambuco nas ruas de Salvador que dois baianos Dodô e Osmar, tiveram a idéia de projetar todos aqueles sons de cima de um carro, a fubica. Enfeitaram e criaram uma parafernália que literalmente foi carregada pelo povo. Assim nascia o trio elétrico, que como diz Caetano Veloso: “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”...
O baiano é sem dúvida, o povo mais democrático que conheço. Absolutamente todos os ritmos são aceitos em seu Carnaval, do brega (aliás, brega na Bahia é puteiro) a música clássica (já vi piano de caldas no trio de Daniela Mercury), quando eu falava que era pernambucano já me pediam prá “frevar” e falavam do “Bacalhau do Batata”, bloco de rua de Olinda...
Nessa época o circuito do Carnaval midiático era: Campo Grande – Av. Sete de Setembro – Praça Castro Alves e o retorno pela Av. Carlos Gomes, podia-se escolher o seu bloco preferido e acompanhar, ou fixar-se em algum ponto e ver os mais de 50 trios com seus blocos desfilarem. Não existiam tantos camarotes, nem arquibancadas, de modo que mesmo o folião com pouco dinheiro, conseguia brincar sem grandes transtornos, havia mais espaço. Também não via muita violência, roubos, etc. Voltava encantado à espera do próximo ano...
Após o ano de 1992, o Carnaval da Bahia nunca mais foi o mesmo. Surgiu no cenário musical Daniela Mercury, grande divulgadora dessa festa e a partir daí o número de turistas só aumenta a cada ano. Foi Daniela quem levou o Carnaval para o circuito Barra-Ondina, para desafogar o Centro. Hoje em dia os dois estão sufocados de tanta gente. Foi nos anos 90 que surgiu o “abadá”, substituindo a pesada “mortalha”, negociado a preço de ouro. Os blocos se multiplicaram e claro os negócios também.
Efeitos colaterais: "Menos espaço nas ruas e aumento da violência".
A festa em Salvador começa uma semana antes com o desfile dos blocos alternativos na Barra e só acaba na tarde da quarta feira de cinzas, há quem diga que nunca acaba...
Ivete Sangalo, Cláudia Leite, Chiclete com Banana, Asa de Águia, Jamil, Margareth Menezes... a lista não acaba mais, porém o Carnaval da Bahia não é só de trios e estrelas, existe no Pelourinho o Carnaval romântico, antigo, de marchinhas, delicioso, mas, por razões óbvias não é vendido pela mídia. Blocos de protestos também existem como o “Mudança do Garcia”.
O último Carnaval que passei na Bahia foi em 2005, voltarei este ano para saborear o que há de melhor e tentar fugir do que há de pior, pois, não tenho mais 14 anos como a minha primeira experiência por lá.
Até amanhã com o Carnaval Carioca!!!
Cuidadinho, tá?!
ResponderExcluirCarnaval sempre tem seus riscos, pois, tem muita gente ruim no mundo que se aproveita de uma festa linda para fazer maldade.
Beijinhos!
Verdade Aninha... mas pode deixar, mesmo "jovem" nunca fui de me enfiar no meio da bagunça e esquecer dos riscos... Quero mais é ver o bloco passar!!! Bjs
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